Conheça mais sobre o papel do cooperativismo no Brasil pelas palavras do Professor José Carlos de Assunção, um dos mais respeitados especialistas brasileiros nas áreas de Governança Cooperativa e de Gerenciamento de Riscos Corporativos, em entrevista exclusiva ao Universo Uniprime.
Universo Uniprime: O Brasil tem uma economia favorável para o crescimento do cooperativismo?
Professor José Carlos de Assunção: Antes de pensarmos no aspecto econômico, o Brasil tem um processo de redemocratização historicamente muito recente e uma população que já nos dá muitos sinais de forte comprometimento com a cidadania. Portanto, um povo afeito às questões do segundo princípio cooperativista “Gestão Democrática”, em que as cooperativas têm obrigação principiológica de promover por meio de efetiva vivência no quadro social. Assim, há um espaço muito grande para que o cooperativismo seja indutor e meio de educação de democracia, valor que nenhuma outra instituição financeira conseguirá entregar.
UU: Quais as vantagens que o Sr. enxerga para o cooperativismo financeiro?
JC: No lado financeiro, temos taxas e tarifas muitíssimo competitivas e um atendimento que valoriza o ser humano antes do peso econômico. Isso aliado à, por força de princípio também, obrigação de promoção de educação, formação e informação do quadro social. As estatísticas revelam que a população brasileira, em ampla maioria, tem dificuldades de gerir finanças, acabando por se endividar de forma inadequada, o que leva as pessoas à baixa qualidade de vida. Há espaço e necessidade, portanto, para o trabalho de promoção da educação financeira dos cooperados, especialmente nas cooperativas financeiras. Por essas duas características, as cooperativas que forem efetivamente competitivas em termos de custo se diferenciam, como tem acontecido em todo o Brasil, e se tornam imbatíveis, porque nenhuma outra instituição tem a responsabilidade de entregar esses valores tão importantes.
UU: O que é preciso para um país adotar práticas cooperativistas?
JC: Melhoria da educação. Na Teoria dos Jogos, por exemplo, há uma constatação racional de que jogos de soma zero, aqueles em que uma ganha e outro perde pode levar a problemas para os dois. O melhor jogo ou relação negocial, sob o aspecto das duas partes envolvidas, é quando o jogo é cooperativo, porque as duas partes saem mutuamente ganhando. Na relação com qualquer outra instituição financeira, o objetivo do fornecedor de produtos e serviços é maximizar lucro, ganhar em cima do outro. A cooperativa atua de forma diferente, não almeja lucro, pela mutualidade, busca prover soluções, o que é diferente de vender produtos e serviços. Por exemplo, nem sempre quem está endividado precisa de empréstimo, pode ser que necessite de aprender a gerir finanças, o que, então, é a solução adequada para esse tipo de situação que deve ser entregue pela entidade cooperativista. Por esse raciocínio, já se constata que cooperar, de forma consciente e racional, é melhor para cada um de nós e para a sociedade e apenas o processo de educação pode incutir esse tipo de entendimento nas pessoas.
UU: Por que o cooperativismo financeiro é uma tendência?
JC: Não é apenas uma tendência, é uma necessidade, até porque atua como promotor de educação financeira, no vácuo que o processo de escolarização formal está gerando, a educação financeira, promovendo qualidade de vida para as pessoas e isso não tem preço.